Na História da Arquitectura, torna-se essencial o conhecimento das ordens arquitectónicas de matriz Clássica, tão utilizadas e revisitadas ao longo dos tempos. Por ordem Arquitectónica entende-se um conjunto de proporções, formas, dimensões e decorações que responde a um todo unitário. Existem três ordens gregas, a Dórica, a Jónica e a Coríntia, e duas romanas, a Toscana e a Compósita.
Desde sempre, a ordem Dórica foi relacionada com o homem, de carácter mais viril e robusto, e a ordem Jónica com a mulher, mais elegante e delicada. Vitrúvio, arquitecto e engenheiro Romano, autor de um muito importante Tratado de Arquitectura datado do século I a.C., contemplou uma série de estudos acerca das ordens Clássicas, referindo-se a esta significação masculina e feminina das ordens Dórica e Jónica, respectivamente.
De seguida, será apresentado um excerto do seu Tratado, no qual o teórico se refere a esta problemática.
“RELAÇÃO DA ORDEM DÓRICA COM O CORPO MASCULINO
Querendo eles colocar as colunas neste templo, não possuindo as respectivas comensurabilidades e procurando uma metodologia conveniente que lhes permitisse sustentar o peso e configurar uma manifesta elegância, mediram com exactidão a planta do pé viril e a reproduziram em altura. Tendo descoberto que o pé correspondia no homem à sexta parte da sua estatura, transferiram o mesmo para a coluna e, qualquer que fosse o diâmetro da base do fuste, elevaram-no seis vezes em altura incluindo o capitel. Deste modo, a coluna dórica começou a mostrar nos edifícios a proporção, a solidez e a elegância de um corpo viril.
RELAÇÃO DA ORDEM JÓNICA COM O CORPO FEMININO
Da mesma maneira levantaram depois um templo a Diana, procurando uma forma de novo estilo, com a mesma planta, levando para lá a delicadeza da mulher e dispuseram em primeiro lugar o diâmetro da coluna segundo a oitava parte da sua altura, a fim de que ela apresentasse um aspecto mais elevado. Na base colocaram uma espira imitando um sapato; no capitel dispuseram, à direita e à esquerda, volutas, como se fossem caracóis enrolados pendentes de uma cabeleira; ornamentaram a fronte com cimácios e festões dispostos como madeixas e por todo o fuste deixaram cair estrias como o drapeado das sobrevestes de uso das matronas. Assim, lograram a invenção de dois tipos discriminados de colunas, uma viril, sem ornamento e de aparência simples, a outra, com a subtileza, o ornato e a boa proporção femininas.”
Fonte: VITRÚVIO (trad. M. Justino Maciel) - Tratado de Arquitectura, Lisboa: IST Press, 2006
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