Os pintores românticos alemães preocuparam-se essencialmente, nos seus escritos, com a teoria das cores, com a estética geral que deve presidir à obra de arte: «modelo interior» ou pelo menos interiorizado, e recusa da trivialidade, como testemunha este texto de Friedrich.
“A arte interpõe-se como mediadora entre o homem e a natureza. O arquétipo é demasiado sublime para que a multidão o possa apreender. A cópia, obra do homem, está mais próxima dos fracos, e reside aí sem dúvida a explicação da frase que se ouve frequentemente, que diz que a cópia agrada mais do que a natureza (a realidade). Ou a expressão: é belo como uma imagem; em vez de se dizer de uma pintura que é bela como a natureza […].
Os pintores ocupam-se a inventar, a compor, como eles dizem, mas não quererá isto dizer, por outras palavras, que se ocupam a montar e a remendar?
Um quadro não deve ser inventado mas sentido.
Observa bem a Forma, tanto a mais pequena como a maior, e não separes o que é pequeno do que é grande mas sim do conjunto, o insignificante […].
Quando o pintor só sabe imitar a natureza morta, ou, melhor dizendo, quando ele sabe imitar a natureza de tal modo que ela parece morta, não é mais do que um macaco culto ou situa-se ao nível de uma modista; isto aqui enfeita a senhora condessa, aquilo ali decora os aposentos do senhor conde, eis toda a diferença […].
O pintor não deve apenas pintar o que vê diante dele, mas também o que vê nele próprio. Mas se nada vê nele mesmo, melhor fará em não pintar o que vê diante dele.Se não, os quadros assemelhar-se-ão a biombos, por trás dos quais esperamos encontrar doentes, ou até mortos […]."
Caspar David Friedrich
Fonte: LEGRAND, Gérard - Reconhecer e compreender a Arte Romântica, Lisboa: Edições 70
Pinturas:
Autor - Caspar David Friedrich
Título/data - O Viajante sobre o mar de névoa, 1818 (esquerda); Mulher diante da aurora, c. 1818 (direita)
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