terça-feira, 19 de abril de 2011

Charles-François Daubigny: Naturalismo, Escola de Barbizon e Pré-Impressionismo


Charles-François Daubigny  foi um dos alunos da Escola de Barbizon e é considerado um importante precursor do Impressionismo.
Daubigny nasce em Paris a 15 de Fevereiro de 1817, no seio duma família de artistas. O seu pai, Edme-François (1789-1843), foi aluno de Bertin e expôs pinturas paisagistas nos Salons de Paris. O seu tio, Pierre, pertencia igualmente ao mundo artístico, tendo trabalhado como miniaturista. Daubigny acaba por seguir desde cedo a via da pintura paisagista. 
O artista teve um papel importante na fundamentação dos novos caminhos a explorar na pintura paisagista, tendo ultrapassado algumas barreiras ainda existentes. Deu preferência a temas das escolas e sítios familiares do seu país, mas isso não o impediu de, ainda jovem, realizar a tradicional viagem de iniciação a Itália. Esta viagem foi paga com os lucros que teve quando se encontrava em Versalhes, com dezoito anos, a pintar desenhos em objectos decorativos. Em Itália entusiasma-se com a frescura e o verde dos vales, mais do que pelas formas eruditas.



Le Printemps, Charles-François Daubigny

Comme c’est beau un port de mer! Tous ces bâtiments de toutes les nations serrés les uns contre les autres!” Daubigny

A sua produção artística vai ser marcada por dois grandes factores: o amor pelo ar livre e o maravilhamento por olhar o mundo à sua volta.








Características da sua obra:
  • Espantosamente dinâmica e com soluções variadas
  • Demonstra a sua sensibilidade para com a beleza dos rios plácidos, das ravinas selvagens, dos mares silenciosos, dos riachos brumosos, da Primavera nos pomares floridos, dos moinhos no Verão, das vindimas no Outono, das árvores despidas pelo Inverno, dos céus de trovoada, do esplêndido pôr-do-sol, dos apaziguantes crepúsculos, dos misteriosos luares.
  • A Natureza é para ele a chave para produzir quadros fortes e bons.

(…) c’est à son souvenir et à sa vue que nous devenons forts et c’est là où nous faisons de bons tableaux.” Daubigny, carta a M. de la Rochenoire, 1874.

  • Sol e Luz tem o papel primordial e central nas suas composições.

C’est beau partout, car on a toujours le même soleil qui fait les beaux tableaux!” Daubigny, Carta a M. Henriet, 1875
  • O barco-atelier de Daubigny (bateau-atelier) – le Botin -, com o qual terá passado cerca de vinte anos a descer e a subir rios de França, nomeadamente até Pont-de-l’Arche.

    Não encontramos Daubigny defronte de locais que evoquem lembranças de leituras ou museus; ou cenários organizados e compostos por mão humana e que não seguem a espontaneidade própria da Natureza. Daubigny prefere a verdade do campo.
  • É com Daubigny que as pinturas passam a ser executadas directamente “no terreno”. Grande contributo do artista na pintura.

Le tableau est un effort; l’étude directe en plein air est une joie.” Daubigny

  • Lever de Lune, Charles-François Daubigny
    É apontado como precursor do Impressionismo (cores justapostas, a pincelada mais larga e esboçada, efeitos de luz a que atenta, ligação das suas obras a verdadeiras impressões, técnica mais rápida e fervorosa, pinceladas fortes e dinâmicas, paleta ilumina-se para seguir efeitos de luz).


Daubigny morreu em Paris a 19 de Fevereiro de 1878, apenas seis dias antes do seu 61º aniversário.


A pintura Romântica

Os pintores românticos alemães preocuparam-se essencialmente, nos seus escritos, com a teoria das cores, com a estética geral que deve presidir à obra de arte: «modelo interior» ou pelo menos interiorizado, e recusa da trivialidade, como testemunha este texto de Friedrich.




“A arte interpõe-se como mediadora entre o homem e a natureza. O arquétipo é demasiado sublime para que a multidão o possa apreender. A cópia, obra do homem, está mais próxima dos fracos, e reside aí sem dúvida a explicação da frase que se ouve frequentemente, que diz que a cópia agrada mais do que a natureza (a realidade). Ou a expressão: é belo como uma imagem; em vez de se dizer de uma pintura que é bela como a natureza […].


Os pintores ocupam-se a inventar, a compor, como eles dizem, mas não quererá isto dizer, por outras palavras, que se ocupam a montar e a remendar?
Um quadro não deve ser inventado mas sentido.
Observa bem a Forma, tanto a mais pequena como a maior, e não separes o que é pequeno do que é grande mas sim do conjunto, o insignificante […].
Quando o pintor só sabe imitar a natureza morta, ou, melhor dizendo, quando ele sabe imitar a natureza de tal modo que ela parece morta, não é mais do que um macaco culto ou situa-se ao nível de uma modista; isto aqui enfeita a senhora condessa, aquilo ali decora os aposentos do senhor conde, eis toda a diferença […].
O pintor não deve apenas pintar o que vê diante dele, mas também o que vê nele próprio. Mas se nada vê nele mesmo, melhor fará em não pintar o que vê diante dele.Se não, os quadros assemelhar-se-ão a biombos, por trás dos quais esperamos encontrar doentes, ou até mortos […]."

Caspar David Friedrich



Fonte: LEGRAND, Gérard - Reconhecer e compreender a Arte Romântica, Lisboa: Edições 70
Pinturas: 
Autor - Caspar David Friedrich
Título/data - O Viajante sobre o mar de névoa, 1818 (esquerda); Mulher diante da aurora, c. 1818 (direita)

domingo, 23 de janeiro de 2011

Breve definição do estilo Rococó ou "Rocaille"

Rococó


Estilo Artístico e arquitectónico caracterizado pela sua ligeireza, graça, alegria e intimismo, que surgiu em França por volta de 1700 e se estendeu pela Europa por todo o século XVIII. Relaciona-se e é comparável com o Barroco no que concerne à complexidade formal, mas ao invés do interesse pela solidez e volume, insistiu em jogos delicados de superfícies, e as cores fortes ou sombrias foram substituídas por cores claras (rosas, azuis, verdes e brancos). A elegância e a conveniência eram as qualidades exigidas por uma sociedade aristocrática que se havia afastado gradualmente do ambiente pesado vivido em Versalhes. O Rococó foi, inicialmente, um estilo decorativo por excelência.
Na pintura, o seu primeiro mestre foi Watteau, e Boucher e Fragonard representaram de uma maneira mais matura o estilo. Falconet é, provavelmente, o seu melhor representante na escultura Francesa mas, no geral, o espírito rococó adequou-se mais a figuras de menor dimensão do que às estátuas de grande porte (o próprio Falconet foi director da fábrica de cerâmicas de Sèvres). Na Arquitectura, o Rococó adequou-se muito mais na decoração de interiores, com curvas assimétricas e motivos decorativos elaborados, do que nos exteriores.
Desde Paris, o Rococó foi divulgado por artistas Franceses que trabalhavam no estrangeiro e por publicações de desenhos Franceses. Estendeu-se pela Alemanha, Áustria, Rússia, Espanha, Norte de Itália, Portugal, etc. Em Inglaterra teve menor difusão. Em cada país tomou um carácter nacional, sendo possível a distinção de várias variantes locais.  
O Rococó floresceu na Europa até finais do século XVIII, mas em França e em outros lugares a corrente de gosto começou a passar da frivolidade e ligeireza à austeridade do Neoclassicismo a partir de 1760.
Fonte: CHILVERS, Ian - Diccionario de Arte, Madrid: Alianza Editorial

Trabalho a realizar: Vida e Obra de um Artista. Algumas sugestões...

Neste 2º período, os alunos de História da Cultura e das Artes desenvolverão um trabalho, sustentado por pesquisa bibliográfica, acerca de um artista Rococó ou Neoclássico. Este deve contemplar uma curta biografia do artista e os dados mais importantes para a compreensão da sua obra artística.
Para os alunos que ainda não decidiram sobre que artista trabalhar, ficam algumas sugestões!

F. Boucher - Rapariga em Repouso, 1752
















Fragonard - O Baloiço, 1767-1768


















Watteau - La Gamme D'Amour,  c. 1717


















Falconet - L'Amour menaçant





















Jacques-Louis David - A Morte de Marat, 1793






























Ingres - A Grande Odalisca, 1814
























A. Canova - Madalena penitente






























Bom Trabalho!

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Visita de Estudo: "Percurso pela Arquitectura Portuense: do Medievo ao Barroco"

No âmbito da disciplina de História da Cultura e das Artes, foi realizada uma visita de estudo a quatro igrejas paradigmáticas da cidade do Porto. O percurso serviu para conhecer exemplos notáveis da arquitectura religiosa da cidade, contemplando exemplos desde a época Medieval até à época Moderna, com particular incidência nos discursos Barrocos.
Após a visita, foi pedido aos alunos que realizassem um pequeno texto, onde falassem da Igreja ou Igrejas que mais os tinham marcado, procurando traduzir os valores sensoriais notados nesta (s). A ideia era, mais do que a simples produção de um texto criativo, que os alunos compreendessem qual o estilo que, de forma mais ampla e directa, mexia com eles: o Barroco. Desta maneira, os alunos conseguiram compreender, em nome próprio, as intenções de toda uma época, plasmadas na produção arquitectónica.


De seguida, serão apresentados dois textos da autoria de Maria Loureiro e Rita Ferreira, respectivamente, ambos sobre a Igreja de S. Francisco, obra arquitectónica de base Medieval mas fortemente alterada pela linguagem Barroca, nomeadamente na utilização da talha dourada no interior.





Durante a visita de estudo, fomos ver quatro igrejas diferentes. Destas, a Igreja de S. Francisco foi a que mais mexeu comigo.
Quando entrei e me deparei com a magnífica decoração exuberante e com a imensa talha dourada que cobria todo o interior da igreja, fiz uma expressão de surpresa, de choque, não estando à espera do que vi. A beleza desta igreja é indiscritível, existindo mesmo um 'horror ao vazio', chamando bastante a atenção de quem a observa, não deixando ninguém indiferente.
Isto fez-me entender o Barroco como um estilo poderoso e chamativo, marcado por uma forte profusão decorativa que pretende cativar pelos sentidos.
A visita foi bastante útil para nos ajudar a perceber tal estilo e para entendermos o que provoca em nós.


Maria Loureiro, 12º E


A visita de estudo realizada no dia 30 de Novembro de 2010 foi bastante produtiva. Visitamos quatro Igrejas: S. Francisco, Sé Catedral, Santa Clara e Colégio de S. Lourenço, todas na cidade do Porto.
Das quatro visitadas, a que mais me cativou foi a Igreja de S. Francisco, pois pareceu-me a mais exuberante e chamativa. A talha dourada no interior da Igreja remeteu-nos para um Barroco profundo e assumido, exuberante e luxuoso. Também gostei pela excessiva decoração, traduzida num "horror ao vazio".

Concluíndo, a Igreja de S. Francisco, a meu ver, remeteu-nos para um Barroco pleno que muito me cativou sensorialmente.


Rita Ferreira, 12º E





Imagens: Interior e  Fachada da Igreja de S. Francisco, Porto.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

As Ordens Arquitectónicas Clássicas nos textos de Vitrúvio

Na História da Arquitectura, torna-se essencial o conhecimento das ordens arquitectónicas de matriz Clássica, tão utilizadas e revisitadas ao longo dos tempos. Por ordem Arquitectónica entende-se um conjunto de proporções, formas, dimensões e decorações que responde a um todo unitário. Existem três ordens gregas, a Dórica, a Jónica e a Coríntia, e duas romanas, a Toscana e a Compósita.
Desde sempre, a ordem Dórica foi relacionada com o homem, de carácter mais viril e robusto, e a ordem Jónica com a mulher, mais elegante e delicada. Vitrúvio, arquitecto e engenheiro Romano, autor de um muito importante Tratado de Arquitectura datado do século I a.C., contemplou uma série de estudos acerca das ordens Clássicas, referindo-se a esta significação masculina e feminina das ordens Dórica e Jónica, respectivamente.
De seguida, será apresentado um excerto do seu Tratado, no qual o teórico se refere a esta problemática.

“RELAÇÃO DA ORDEM DÓRICA COM O CORPO MASCULINO
Querendo eles colocar as colunas neste templo, não possuindo as respectivas comensurabilidades e procurando uma metodologia conveniente que lhes permitisse sustentar o peso e configurar uma manifesta elegância, mediram com exactidão a planta do pé viril e a reproduziram em altura. Tendo descoberto que o pé correspondia no homem à sexta parte da sua estatura, transferiram o mesmo para a coluna e, qualquer que fosse o diâmetro da base do fuste, elevaram-no seis vezes em altura incluindo o capitel. Deste modo, a coluna dórica começou a mostrar nos edifícios a proporção, a solidez e a elegância de um corpo viril.
RELAÇÃO DA ORDEM JÓNICA COM O CORPO FEMININO
Da mesma maneira levantaram depois um templo a Diana, procurando uma forma de novo estilo, com a mesma planta, levando para lá a delicadeza da mulher e dispuseram em primeiro lugar o diâmetro da coluna segundo a oitava parte da sua altura, a fim de que ela apresentasse um aspecto mais elevado. Na base colocaram uma espira imitando um sapato; no capitel dispuseram, à direita e à esquerda, volutas, como se fossem caracóis enrolados pendentes de uma cabeleira; ornamentaram a fronte com cimácios e festões dispostos como madeixas e por todo o fuste deixaram cair estrias como o drapeado das sobrevestes de uso das matronas. Assim, lograram a invenção de dois tipos discriminados de colunas, uma viril, sem ornamento e de aparência simples, a outra, com a subtileza, o ornato e a boa proporção femininas.”
Fonte: VITRÚVIO (trad. M. Justino Maciel) - Tratado de Arquitectura, Lisboa: IST Press, 2006





Mini Glossário de termos da Arquitectura | 11º E

No  estudo da Arquitectura Clássica Grega, torna-se indispensável compreender o significado dos vários termos arquitectónicos que vão surgindo ligados aos edifícios estudados e, sobretudo, às ordens arquitectónicas. Neste sentido, as alunas do 11º E, Renata Azevedo e Cristina Dinis, construíram um pequeno glossário com os termos mais significativos relacionados com a arquitectura Grega da época Clássica. De seguida, será apresentado um resumo dos termos mais importantes.

Glossário de termos de Arquitectura
Ábaco- Parte superior do capitel de uma coluna, sobre a qual assenta a arquitrave na arquitectura clássica.
Anel- Pequeno filete idêntico a uma argola que rodeia o fuste de uma coluna.
Arquitrave- Parte do entablamento imposta directamente sobre os capitéis das colunas.
Base- Zona inferior de qualquer construção ou elemento arquitectónico.
Capitel- Parte superior da coluna, da pilastra ou do pilar, constituído por ábaco e coxim, sobre o qual assenta a arquitrave ou o mainel de um arco.
Cela- Espaços fechados nos templos da Antiguidade onde se colocava a imagem da divindade.
Cimalha- Moldura com tanta saliência como altura, formada por dois arcos de circunferência, côncavo o superior e convexo o inferior, e que serve de remate da cornija.
Coluna- Elemento estrutural vertical de secção circular ou poligonal, composto normalmente por monolítico ou constituído por várias peças que individualmente se denominam tambores.
Cornija- Diz-se de uma das três ordens da arquitectura grega clássica. O fuste da coluna assenta numa base e é canelado, tendo em regra vinte e quatro caneluras. O capitel, dos mais decorados das ordens clássicas, é de forma campaniforme, com folhas de acanto e volutas envolvendo o tambor. O friso é contínuo e decorado e a arquitrave apresenta três bandas. A cornija é pouco saliente. Segundo as regras modulares, a coluna tem vinte módulos de altura e o entablamento cinco.
Entablamento- Coroamento de uma ordem arquitectónica. É composto de arquitrave , friso e cornija, variando e relacionando-se as suas proporções conforme a ordem a que pertence.
Estereóbato-  Soco em base nem cornija, sobre o qual assentam colunas.
Equino- Parte inferior dos capitéis, entre o ábaco e o fuso da coluna.
Dentículo- Ornato em forma de paralelepípedo colocado de modo a sobressair do fundo.
Estilóbato- Embasamento dotado de base e cornija, contínuo, sustentado colunata.
Friso- Zona do entablamento entre a arquitrave e a cornija na arquitectura greco-latina, normalmente sem decoração, excepto na ordem dórica, em que apresentam métopas e tríglifos.- Coroamento da fachada principal de um edifício, de uma porta, janela ou nicho.
Frontão - Coroamento da fachada principal de um edifício, de uma porta, janela ou nicho.
Fuste- Porção de uma coluna entre a base e o capitel. Pode ser monolítico ou constituído por tambores.
Gota- Ornato cónico ou piramidal geralmente aplicado na base de uma cornija, nos mútulos de um lacrimal ou na base do tríglifo da ordem dórica.
Lintel- Verga em madeira, perda ou ferro que se apoia nas ombreiras de uma porta ou janela.
Métopa- Intervalo entre os tríglifos do friso dórico da arquitectura grega. Pode ou não ser decorada.
Opistódomos- Casa fechada  na parte posterior de um templo antigo, com a função aproximada das actuais sacristias.
Pronau- Pórtico ou compartimento do templo clássico que dá acesso à cela.
Rampa- plano inclinado que permite a ligação entre dois pisos.
Tímpano- Superfície ou espaço entre as três cornijas do frontão. Pode ser liso, esculpido ou com óculo.
Tríglifo- Ornato do friso formado por dois sulcos ou glifos verticais, separados por três ressaltos.
Voluta- Ornato espiralado de um capitel ou coluna.

Fonte Bibliográfica: AA.VV. - Vocabulário técnico e crítico da Arquitectura, Coimbra: Quimera, 2005